Letra - Tradução
Chorem, mas chorem muito. Chorem como se eu também tivesse morrido. De certa maneira, isso ocorreu. Agora sou um verme que rasteja lentamente, ironicamente, comendo minha própria carne podre.
Não, eu não quero muletas. Eu quero continuar rastejando, me contorcendo de dor. Eu, que queria voar, devo esperar minhas asas nascerem novamente. Metal e borracha me levaram para baixo, levaram inocentes para cima. Injustiça! Por que não foi eu que virei anjo e deixei a culpa para os outros?
Minha carne em putrefação cheira a álcool. Devo colocar a culpa dos meus problemas na bebida, eu, o frágil alcoólatra prepotente. Beber, beber. O álcool penetrava no sangue, afogava os neurônios. Diziam que eu me transformava em outro quando bebia. Não. Quando bebia, eu mostrava quem eu realmente era. Eu era aquela criança crescida, aquela que o pai insistia para tomar um pouco de cerveja e que tinha medo de tomar a bebida e ficar idiota como todos os outros. Aquela mesmo criança que depois de certa idade bebia escondido por infantilidade, teimosia ou apenas por insegurança.
Sim, eu vejo que suas lágrimas são reais, mas dirigem-se à pessoa errada. Chorem por vocês, sou apenas um erro. Um erro rebelde, agressivo, que queria voar a cento e cinqüenta quilômetros por hora, para expressar a euforia, para mostrar quem manda, para aumentar a adrenalina, para não ver que estava na contramão, para matar as duas pessoas que mais amava como o pior dos assassinos.
Deviam ter maior cuidado ao juntar os pedaços do acidente. Quando pegaram meus pedaços ainda vivos, misturaram com tudo: cacos de vidro e asas quebradas. Hoje, sou frio como aquele metal tão afiado, sujo como aqueles pneus arrebentados. Tudo bem em me fazer um mutante de metal, mas por que roubaram para mim o coração de minha namorada? Hoje ele bate forte e triste, preso ao assassino, tentando fugir. Eu não sou eu mesmo, quando olho no espelho vejo os olhos do meu melhor amigo, aqueles mesmos olhos assustados no retrovisor, um segundo antes de...
Agora todo o meu passado transformou-se em um instante. O instante em que o carro fundiu-se com aquele caminhão em meio a uma estrada tão conhecida, que agora não sei mais como é, só sei que nunca quero lá voltar. Agora quero continuar, para sempre verme, deitado nessa cama de hospital, um casulo, esperando o momento certo de criar asas novamente e ir par o céu.