Letra - Tradução
Às vezes eu procuro o horizonte, mas ele sempre se esconde. Talvez para alguém eu seja um ponto da linha que forma o horizonte. Como eu amo esse alguém.
Eu não durmo. Isso me parece hipocrisia. A noite é a melhor parte do dia. Se pudesse, durante o sol, seria apenas uma sombra. O sol e a chuva desgastam o meu corpo, desgastam minha alma. Num mar verde tenho como castigo assustar, mas sou eu quem mais sente medo.
Os corvos são apenas o sorriso do dia. Um sorriso verdadeiro carrega em si a falsidade da felicidade. Não sei se amo os corvos porque eles estão sempre longe, ou se eles ficam longe de mim para renegar o meu amor. Talvez eu os queira assados, ou apenas bicando o meu
chapéu.
Eu não sei quem me fabricou. Acho que minha alma nasceu quando o meu criador se esqueceu de mim. Devia ser uma moça bonita, sentada numa cadeira de balanço, na varanda, olhando o pôr-do-sol e enchendo as calças velhas do pai de palha. Mas não foi ela quem me colocou aqui. Deve ter sentido pena, e me colocaria olhando o pôr-do-sol, não de costa para ele.
Como era lindo acordar com o cheiro de relva dos primeiros raios de sol. O tempo, a monotonia, o desgaste. Todas as manhãs, o mesmo raio que vai perdendo o aroma. A luz começa machuca a machucar. Como seria bom uma noite que não amanhecesse. Como seria bom fechar esses olhos de botões.
O sol era tão lindo, ele já foi a minha certeza de viver, hoje é minha certeza de viver, hoje é a certeza da minha incapacidade de morrer. Eu nem estou vivo pra poder morrer, mas também não estou morto. Não sei que tipo de magia me transformou de palha e chapéu a um ser que sente. Talvez eu seja apenas um sentimento esquecido pela mocinha da varanda.
Não posso mais apreciar o nascer do sol, pois vivo imaginando como seria o seu desaparecer. Acho que se pudesse ver a ira laranja do sol, encontraria minha realidade. Devo ser uma maldição, resultado de um feitiço. Feito para sempre para ser dia, desejando anoitecer.
Os que nascem para ver o pôr-do-sol desejam um manha eterna. Por que fugir do por do sol se é o fim quem sempre emociona?